sábado, 14 de maio de 2011

O meu pops.


Hoje foi a última vez que te conduzi. A última depois de nove longos anos. Foste o meu primeiro carro e contigo e em ti vivi mais do que com todas as pessoas juntas que conheço. Juntos fomos ao deserto do Sahara, fizemos quilometros infindáveis só os dois... Daquelas viagens em que te carregava no acelerador com o pé esquerdo por ter o direito cansado. Dentro de ti fiz um pouco de tudo mas principalmente cantei, cantei muito. Chorei também é certo mas hoje despedi-me do meu companheiro de sorriso no rosto. Não nostálgico, apenas de adeus que já se faz tarde. Mas não podia deixar de dedicar umas linhas, no fundo não tens culpa do choque contra o camião a alta velocidade, eu também não. Não tens culpa que depois desse acidente tenhas ficado tosco, a proferir gemidos estranhos quando te acelerava um bocadinho mais, irremediavelmente estragado. Não tens culpa dos assaltos a que foste sujeito, das marcas de cerveja em todo o lado, do meus sapatos espalhados nos bancos...
No fundo só te quero o bem e por isso do meu mais intimo ser te desejo:  espero que o teu próximo dono te trate melhor do que eu tratei.