sexta-feira, 22 de março de 2019

Sharp Objects


Acabei ontem à noite Sharp Objects, e talvez por isso tenha tido uma insónia como já não havia memória. É que está série é mesmo inquietante e psicologicamente aterradora. Apesar de partilhar o realizador com Big Little Lies, estamos perante um trabalho muito diferente, talvez porque a série seja inspirada num livro de Gillian Flynn, conhecida pelos seus thrillers conduzidos numa espiral muito dark. E Sharp Objects não é diferente, a luz não é aqui chamada nunca. Apesar do fio condutor ser um crime, a série leva-nos pelos tramas da vida pessoal de Camille, interpretada por uma fabulosa Amy Adams, a destacar-se aqui mais uma vez, como a melhor actriz da sua geração. O primeiro episódio é lento e apesar do ritmo acelerar um pouco, rápido entendemos que temos de viver as cenas como se estivéssemos nós também na pequena cidade de Wind Gap. Os sinais daquilo que realmente estamos a ver são muitos, no entanto só o entendemos lá para o quarto episódio quando nos arrependemos (mea culpa) por não termos estado mais atentos. Mas é com tal primazia que chegamos a um final inesperado, que queremos ver tudo desde o início, desta vez com a consciência de que tudo é escrupulosamente pensado e nada deixado ao acaso. Simbologia no seu expoente máximo, na sua forma mais simples e tão complexa. Patricia Clarkson como a mãe hipocondríaca e Eliza Scanlen como a irmã mais nova/ espelho, estão incrivelmente bem. As personagens de ambas são tão complexas que às vezes parece que cabem duas ou três dentro de cada uma, e nós nunca sabemos quem estamos a ver. Os flashbacks ritmam a narrativa de forma irregular, e acreditem, temos mesmo de estar atentos porque os episódios fluem de forma tão natural que facilmente somos iludidos pelas nossos olhos ou pela nossa mente. Talvez seja esse o objectivo.
Excepcional, não recomendada a pessoas mais sensíveis, impacientes, ou que tenham medo do escuro. Aquele escuro que continua alojado no peito mesmo quando as luzes do quarto se acendem. 

Big Little Lies