sábado, 30 de julho de 2011

O aniversário do fim de uma era...


Esta noite acordei de rompante às 6 da manhã. Não é comum que aconteça ao fim de semana. Acontece por vezes quando alguma questão de trabalho me assalta a mente e rapidamente volto a dormir. Hoje é Sábado e só saí da cama às 11 horas mas às 6 da manhã despertei e pensei.... Faz anos hoje, tenho quase a certeza que foi nesta data.... E com a promessa interior de o verificar quando acordasse voltei a dormir. 

Só me recordei agora e confirmei que tinha razão. Sim, hoje faz 4 anos que o telejornal abriu de uma forma triste, duplamente triste. Michelangelo Antonioni e Ingmar Bergman tinham morrido. No mesmo dia o mundo ficou mais pobre de uma forma trágica. Antonioni tinha 94 anos e Bergman tinha 89. Não eram novos, é certo, mas que acontecimento mais macabro este. Duas lendas vivas do cinema europeu. Dois mestres do cinema de autor. Dois realizadores que se admiravam mutuamente. Dois cineastas por quem eu tinha devoção. Morreram dia 30 de Julho de 2007. 

Falta-me ler mais sobre Antonioni mas já devorei várias vezes a auto-biografia de Ingmar Bergman. Um génio. Um louco. Estudei ambos e mergulhei em alguns dos seus filmes de corpo e alma. Filmes esses labirínticos, prodigiosos em cenas longas, com especial enfoque no subconsciente e tão assertivos e ao mesmo tempo indefinidos nos seus diálogos. 

Não acredito de facto em coincidências e caso exista um after life estou convencida que os dois estejam até agora em amena cavaqueira a trocar ideias sobre takes num inglês macarrónico. 


quarta-feira, 27 de julho de 2011

Sobre sombras, contrastes e novamente cinema.


Tem me apetecido escrever sobre cinema. Escrever até me fartar se é que isso é possivel. Tenho fome de bons filmes, de análises críticas, de debates enfáticos. E esta vontade não me vem apenas do rígido mestrado em estudos cinematográficos em Inglaterra. Como já aqui falei desde cedo no meu curso de comunicação o cinema assumiu uma importância fulcral e sempre me servi dele como auxiliar de tantas e tantas teorias da comunicação. Dá-me gozo, é isso. Dá-me muito gozo. Análises semióticas chatas que não interessam ao Menino Jesus mas que a mim fazem vibrar. E daí mais uma vez aqui estou com o cinema, "o meu cinema".

Quando disse ao meu orientador que queria fazer uma tese sobre "O Sonho e o Cinema" ele disse-me que a minha escolha era atrevida. A minha ignorância poder-se-ia pagar cara. Há pouca bibliografia sobre o tema, caminhava sobre terrenos escorregadios e não podia contornar a abordagem à psicanálise. Assim foi e resultado melhor seria impossivel. O meu case-study foi o filme Mulholland Drive de Lynch, filme esse que nomeio como um dos melhores que tive o prazer de assistir (dezenas de vezes). Talvez seja interessante que partilhe algumas observações sobre a complexa obra aqui, uma vez que o número de pessoas que já me pediu uma desconstrução do filme seja considerável. Para já e tal como ontem pegando numa citação constituinte da minha tese aqui fica este texto que acho absolutamente fabuloso.

John Alton, director de fotografia de mais de cem filmes falou muitas vezes do poder da luz e da falta dela. Das sombras e dos contrastes e de como a iluminação é sem dúvida o mais importante na fotografia de um filme. Amante que sou desta vertente do cinema aqui fica este descontraído texto que se lê num arder de um fósforo e que mais uma vez me faz pensar não há nada mais mágico que a ficção, nomeadamente em cinema.


“Para se aperceber do poder da luz e do que ela pode fazer à mente de uma audiência, visualize esta pequena cena: O quarto está escuro. Um forte raio de luz aparece no hall sobre a porta. Ouve-se o som de passos. A sombra de dois pés divide o raio de luz. Segue-se um breve silêncio. Existe suspense no ar. O que é? O que vai acontecer? Ele vai tocar à campainha? Ou apenas inserir a chave e tentar entrar? Aparece outra sombra mais pesada que bloqueia a luz por completo. Ouve-se um indistinto som de assobio e a sombra vai-se embora. Vemos com a luz fraca, um papel a ser empurrado sobre a carpete. Ouvem-se novamente os passos… Desta vez a irem-se embora. Aparece uma vez mais uma luz que ilumina a nota de papel no chão. Lemo-la à medida que os passos se afastam: São dez horas. Por favor apague o seu rádio. O vizinho.”

Painting with Light (1949)


terça-feira, 26 de julho de 2011

Máscaras, Jung, Bergman, Godard e de como eu adoro cinema acima de tudo na vida...


Eu compreendo, tudo bem: o desesperado sonho do ser, não parecer, mas sim ser. Em todos os momentos, alerta à distância entre o que tu és com outros e o que tu és para ti. A vertigem e a constante fome de ser exposta, ser vista através de, talvez até ser apagada. Em cada gesto uma mentira, em cada sorriso uma máscara. Suicídio? Não, muito vulgar. Mas podes-te recusar a mexer, recusar a falar de modo a que não precises de mentir. Podes-te calar em ti própria. Assim não precisas de interpretar papéis ou fazer gestos errados. Ou pensas tu. Mas a realidade é diabólica. O teu esconderijo não é impermeável. A vida engana-te e tu és forçada a reagir. Ninguém te pergunta se é verdadeiro ou falso, se estás a ser autêntica ou apenas uma cópia. Coisas como estas só têm importância nos palcos, e até mesmo lá raramente têm. Eu compreendo porque não falas, porque não te mexes, porque estás apática. Compreendo. E admiro. Deves desempenhar este papel até ao fim até que perca o interesse para ti. Depois podes abandoná-lo, assim como abandonaste todos os outros papéis, um por um.
Margaretha Krook em Persona de Ingmar Bergman (1966)


Jean Luc Godard escreveu na revista Cahiers du Cinema que “se para Bergman estar só é fazer perguntas, para Bergman filmar é encontrar as respostas”. O texto acima transcrito é um excerto de Persona, filme escrito e realizado por Ingmar Bergman e uma chave mestra na sua obra individual. Aparentemente um monólogo, este é um diálogo entre a psiquiatra interpretada por Margaretha Krook e a sua doente, a personagem Elisabeth Vogler interpretada por Liv Ullmann. Enquanto que as palavras faladas pertencem unicamente à primeira, a segunda responde com olhares e silêncios, olhares que falam, silêncios que gritam. O filme trata o período de exclusão de Vogler, uma actriz constantemente a representar. Sendo incapaz de fazer cair as várias máscaras que carrega, deixa que a enfermeira que a acompanha, personagem interpretada por Bibi Andersson, sugue a sua própria personalidade apropriando-se da sua vida. A actriz, que mais nada sabe fazer do que actuar, toma assim a identidade da ingénua enfermeira num debate interior pela sua genuinidade.

The cinema is truth 24 frames-per-second. -Jean-Luc Godard


sexta-feira, 22 de julho de 2011

Quero um Ocelot!


Haverá algo mais perfeito do que este animal? Um gato con traços de tigre. Um wildcat. Mas não serão todos os gatos wild?

Quem me conhece sabe a afinidade que tenho com os gatos. Tive 3 na minha vida, cada um com uma história muito própria e que contarei aqui brevemente. Vi o Cats a primeira vez com 15 anos e fiquei absolutamente fascinada com o texto, com a forma como se esgueiravam, apresentavam. Depois disso exigi à minha mãe um gato. Identificava-me com eles, com a sua personalidade. Entendemo-nos bem eu e os felinos. Damos o espaço que precisamos um ao outro e depois temos momentos de endless ternura e ronronar. Somos astutos, calculistas, misteriosos. Somos espiritos livres que gostam de mimo e bem estar. No entanto nunca se sabe o que pode contar de nós ao mesmo tempo que sabe que se pode contar tudo até o inimaginável.

Já disse que gostava de felinos? Gostava de ter um Ocelot, o meu tigre de estimação, qual Jasmine do Alladin. Se calhar já o tenho, só preciso de pegar nele e dizer: Baby, this is home!

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Em Guimarães...



eu nunca acordo com barulho na rua ou ouço carros a passar.

eu não preciso de usar relógio porque os sinos de várias igrejas marcam o compasso da vida.

eu posso assistir a sessões de cinema ao ar livre no centro histórico mais bonito que conheço.

eu sou sempre bem atendida e as pessoas oferecem-se sempre um sorriso quando passo.

eu posso comprar carteiras Chloé e Celine e sapatos YSL e Balenciaga em lojas de comércio de rua.

eu bebo um chá de ervas e como o melhor Jesuíta do mundo por 2€.

eu vibro com o futebol que une uma cidade, grito meio palavrão por minuto e no fim ainda me emociono no estádio.

eu posso visitar o meu Palácio, o meu Castelo, as minhas Muralhas e ler com orgulho a placa que diz "Aqui nasceu Portugal".

eu posso viver numa casa onde animais correm ao ar livre, morangos nascem às centenas e uma floresta de girassóis avista-se da varanda do quarto.

eu posso dar passeios intermináveis na Pousada de Santa Marinha, outrora mosteiro, onde os jardins mais misteriosos do mundo se levantam e onde os meus irmãos se casaram.

eu tenho as vistas mais bonitas do pôr do sol sobre a cidade a partir da minha sala e no entanto consigo estar no centro em 5 minutos.

eu dou longos passeios pelo parque da cidade, pelas ruas estreitas com centenas de anos, pela história de Portugal.

eu posso passar o fim de semana todo de havaianas e bikini, vestir um leve vestido para ir comprar o pão mais estaladiço sem que ninguém olhe para mim de lado mesmo não havendo mar por perto.

eu estou perto pertinho de Espanha, perto pertinho do Porto e mais perto pertinho ainda das pessoas que moram no meu coração.

eu converti-me ao espirito de ser vimaranense, de adorar o D. Afonso.

(Porque nem sempre foi assim e Guimarães conquistou-me. Porque nasci em Guimarães há 27 anos e só agora entendo que nasci no sitio certo. E havendo tanto mas tanto mais para dizer sobre as qualidades da minha cidade apenas me ocorre que:)

"Em Guimarães.... eu sou feliz."