terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

Óscares: Premiar Arte ou Industria?



Quanto vale uma nomeação aos Óscares? Segundo Randy Nelson, professor de economia no Colby College, uma nomeação ao Óscar de melhor filme, rende em média o montante acrescido de 11 milhões de dólares em resultados de bilheteira. Já uma nomeação para melhor actor ou melhor actriz pode adicionar até um milhão de dólares ao Box Office, expressão usada para designar o ranking de filmes mais rentáveis num determinado período de tempo. Por este motivo grandes produtoras como Warner Bros, Fox, Paramount, Walt Disney e Miramax investem todos os anos milhares de dólares em campanha junto dos membros da Academia para que os seus filmes sejam nomeados.
The Queen, filme nomeado na categoria de melhor filme, passou de estar exibido em 344 salas na semana antes das nomeações para 1600 salas na semana seguinte. Este aumento representou o total de 3,7 milhões de dólares em resultados de bilheteira no espaço de uma semana. Os produtores de Babel, também nomeado na mesma categoria, viram o seu filme em exibição em 900 salas na semana após 24 de Janeiro, dia em que as nomeações foram anunciadas, em oposição com as 175 salas que ocupava na semana anterior. Porém ao observar o gráfico em cima, pode-se constatar que o número de filmes no top ten após as semana das nomeações desceu de 4 até ao total de 0 filmes na semana anterior à cerimónia dos Óscares.

Vários especialistas explicam este fenómeno como algo de bastante comum, uma vez que os filmes nomeados estrearam na sua maioria há vários meses atrás. Para além disso os filmes nomeados para os Óscares, marcadamente dramas, não costumam cair no goto dos espectadores que optam por películas mais ligeiras, principalmente no género comédia e animação. No ano anterior, as receitas das cinco longas metragens nomeadas ao Óscar de melhor filme, tiveram na sua totalidade um valor bastante inferior ao de um único filme da Disney: As Crónicas de Narnia. O mesmo acontece este ano com os filmes nomeados nas principais categorias, que conseguiram resultados de bilheteira muitos baixos. Letters from Iwo Jima, considerado pelos críticos como um dos melhores filmes de ano teve nos Estados Unidos uma receita de 2 milhões de dólares. Em oposição com este resultado, o também nomeado para 4 categorias técnicas: Piratas das Caraíbas, conseguiu 400 milhões de dólares nos Estados Unidos e 1 bilião de dólares a nível mundial.


Este fenómeno, porém, não é nada de novo e tornou-se previsível para a maioria dos especialistas. O ano de 2000 foi o último em que o filme campeão de bilheteiras arrecadou também o Óscar de melhor Filme. Aconteceu com o Gladiador e apenas durante 3 vezes mais nos anos 90: The Silence of The Lambs, Forrest Gump e Titanic.

De acordo com Abraham Ravid, professor de economia e finanças na Universidade Rutgers, um Óscar não representa obrigatoriamente uma melhoria visível nos lucros de um filme e principalmente pode limitar os trabalhos posteriores de um oscarizado. Essa vertente é muito visível nos actores e actrizes premiadas, que depois de receberem o Óscar têm usualmente dificuldades em arranjar papéis. Não só porque o seu valor no mercado subiu, limitando as produções de baixo orçamento, como também por ficarem demasiados associados ao papel que lhes valeu o Óscar.
Apesar dos fracos resultados de bilheteira, os filmes de 2006 têm agora com os Óscares uma nova oportunidade para revitalizarem os lucros. Para além das sessões extra que foram feitas para os filmes nomeados, muitos deles foram já lançados em DVD, o que representa uma lufada de ar fresco em termos monetários. De acordo com a revista Variety, o filme Crash subiu cerca 150% nas vendas de DVD a partir do momento em que foram anunciadas as nomeações. O mesmo parece acontecer com Litle Miss Sunshine, que após o anúncio das suas 4 nomeações passou para o quinto filme mais vendido na Amazon.
Arte ou Industria, os Óscares hão de estar sempre associados a resultados de bilheteira e venda de DVDs. E apesar dos prémios e os elogios da crítica estarem por vezes desfasados do número de espectadores, o certo é que a Academia opta por premiar filmes que possam projectar a imagem do Óscar a nível mundial. E coincidência ou não, Crash, o filme nomeado ao Óscar de melhor filme com maior receita de bilheteiras de 2006, arrecadou o galardão máximo contra qualquer expectativa, um ano depois repete-se o “filme” com The Departed, o menos elogiado pela critica a sair o vencedor da noite, deixando para trás os impopulares Babel e Letters from Iwo Jima.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

TIA - This is Africa : Blood Diamond



Esta frase, que aparece apenas duas vezes durante quase duas horas e meia, define o que é um dos melhores filmes de 2006 (american launch). Podemos começar pela fotografia, que vem mais uma vez mostrar o valor de Eduardo Serra e que deixa a desilusão de uma não-nomeação aos oscares. A imagem, castanha e com grão, tal como a terra que Leo DiCaprio segura na mão nas ultimas cenas do filme, transporta-nos numa viagem para a Serra Leoa, onde risos e lágrimas são uma constante. Os actores, todos os actores, estão inacreditavelmente bem. (Um oscar par Leonardo DiCaprio, por favor!) Este é um filme de consciências, apela ao lado humano de cada um e tem um papel no ano de 2006 semelhante ao que O Fiel Jardineiro teve em 2005. Ao mesmo tempo faz lembrar o Hotel Ruanda, talvez por serem dois filmes passados em Africa, sobre Africa. Este é um filme agressivo, com uma dose de violência brutal, que faz o espectador ficar com um nó na garganta. Fala de um diamante e de como ele pode mudar a vida de vários homens, com uma clara inspiração na Pérola de Ernest Hemingway.
Mas este filme, que como já disse é um filme de consciências, cai no erro de entrar em alguns cliches desnecessários. A lágrima, que é fácil demais em algumas cenas, devia ser guardada para os momentos realmente importantes. A montagem, por vezes confusa e dispersa, é um nitido exemplo de como o filme foi arquitectado para o suspiro constante em vez de uma visão mais realista e fria do tipico final feliz. Acho que o filme seria mais credivel sem os ultimos 10 minutos, ou seja as cenas passadas em Londres. O filme nasce em Africa e deveria morrer em Africa. Seria um final excelente, aquele plano do helicopetro em contra-luz a mostrar Africa em toda a sua plenitude. Seria um final em apoteose, com o desfecho em aberto a ficar na imaginação de cada um. Em contrapartida deixaram-se levar pelo final feliz, a fórmula batidissima de um inesperado heroi, desprezado durante todo o filme, e que acaba a ser aplaudido por uma plateia de ilustres.

Criticas à parte, este Blood Diamond, mais do que um bom filme, é um filme importante. Daqueles que significam alguma coisa, que ensinam alguma coisa. E como filme importante que é, dou-lhe 17 valores limpinhos.

Fica a questão: Deveria estar nomeado ao Oscar de melhor Filme? Digam-me vocês.

terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

And the Oscar goes to...

Próximo Domingo é a noite, a grande noite pela qual pessoas como eu, esperam durante alguns meses e vibram com o aproximar do dia. Eu sei que os Oscars nem sempre premeiam os melhores filmes desse ano (e cada vez mais) deixam de forma filmes que valia a pena serem valorizados. A academia é constituida por actores, realizadores, produtores, argumentistas, etc, sendo que cada um vota na sua categoria e todos votam na categoria de melhor filme. Ora num meio com tantas panelinhas como é o do cinema, obviamente que os prémios nem sempre são justos e o factor monetário tem a maior das influências. Alguns destes filmes ainda não estrearam em dvd, outros ainda estão em exibição nas salas americanas. Nada como um oscarzito para revitalizar um lançamento ou para assegurar um box office no próximo filme daquele actor/ realizador/ produtor/ argumentista/ etc. Mas isto não é novidade para ninguém, a arte cinematográfica é cada vez mais industria cinematográfica e...

Let´s face it: Quer se queira quer não, cinema é Hollywood, e que melhor exultação de Hollywood do que os Oscares da Academia...

Vou passar às minhas previsões e aos meus desenhos para a noite de Domingo. É que infelizmente, de certeza que não vão coincidir...

Desejos a azul, previsões a laranja:

Melhor Filme: Litle Miss Sunshine - Letters From Iwo Jima

Melhor Realizador: Martin Scorsese - Clint Eastwood

Melhor Actor: Leonardo DiCaprio - Forest Whitaker

Melhor Actriz: Kate Winslet - Helen Mirren

Melhor Actor Secundário: Djimon Hounsou - Eddie Murphy

Melhor Actriz Secundária: Adriana Barraza - Jennifer Hudson

Melhor Argumento Original: Babel - Babel

Melhor Argumento Adaptado: Borat Cultural Learning... - The Departed

Melhor Filme de Animação: Cars - Cars

Melhor Filme Estrangeiro: El laberinto del Fauno - El Laberinto del Fauno

Melhor Fotografia: The Illusionist - El Laberinto del Fauno

Melhor Montagem: Babel - Babel



terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

Stranger than Fiction


Stanger than fiction é mais um da longa lista de filmes que foi injustiçado pela tradução ao titulo em português. Tal como aconteceu com Miss Litle Sunshine que com o titulo Uma familia à beira dum ataque de nervos, foi identificado como uma pura comédia estupida, Stranger than Fiction com Contado Ninguém Acredita, não fica propriamente a ganhar.

Stranger than Fiction é uma comédia sem duvida. Não daquela que arranca gargalhadas da plateia mas simples esgares de sorrisos com os diálogos inteligentes e bem estruturados. Deixa de lado os gags de situação e aposta num humor que nem qualquer pessoa gostaria. Aliás... Este não é o tipo de filme que vá coleccionar muitos admiradores em Portugal. É um filme sobre Literatura e sobre argumentismo e tem momentos de metalinguagem absolutamente deliciosos. Mas acima de tudo é uma lição de vida sobre o valor que cada coisa deve ocupar na nossa existência e quantos minutos devemos, ou não, dedicar a cada etapa.

Excelente argumento de Zack Helm a fazer lembrar um Charlie Kaufman mais leve e engraçado.
Bons actores. Um surpreendente Will Ferrell num papel que não cabe propriamente no seu género de comédia e os sempre bem Emma Thompson, Maggie Gyllenhaal (A Secretária) e Dustin Hoffman.
Marc Forster (Finding Neverland, Monster's Ball) a manter o nivel e as expectativas altas e a mostrar que um realizador não tem de fazer filmes todos iguais para se firmar no mercado cinematográfico.

Nota 15