sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

O Zé Pedro dos Xutos



A vida do Zé Pedro dizia-me alguma coisa e tocava na minha por vários motivos que agora não interessam absolutamente nada. A quantidade inúmera de amigos que nestas últimas horas o descreveram de forma tão amorosa, alguns meus amigos também, só vem acentuar esta empatia. E podia dizer muita coisa, de muitas lembranças, momentos, cartas escritas, segredos ao ouvido. O Zé Pedro, ainda hoje "o" li na Blitz, encontrou o amor. Tinha o amor. E isso, só isso importava. E eu quando com 16 anos fui à queima ouvir Xutos (que por tantas Quintas-Feiras e Queimas se repetiu), ouvi aquela que tinha sido a música do filme Tentação. E que dizia: Para sempre, mas para sempre, vou gostar de ti. Hoje com o Zé Pedro morre um bocadinho do nosso imaginário. O que vale é que o repertório, para sempre, mas para sempre, vai ficar em nós. E acreditem. Porque o o Zé Pedro o disse e eu acredito. Só o amor vale a pena. Só ele fica. Só ele ficará.  As estrelas não morrem. Brilham!

quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Monsanto


Quando se casa com alguém não se casa apenas com a pessoa indivíduo. Casa-se com a familia, com os amigos, com os feitios, com as lembranças, com os sítios. Ao casar-me com o meu  marido passei a ser filha de Monsanto,  a aldeia mais portuguesa de Portugal. Vim cá a primeira vez no fim de 2009 quando não éramos sequer namorados. Tinha sido um ano atípico e Monsanto pareceu-me logo um tónico de juventude. A samarra, de quando o meu agora marido tinha 14 anos, assentava-me como uma luva e andava toda contente, eu, a samarra, e os chapéus que tinha roubado ao meu pai por cima do meu longo cabelo loiro por Monsanto. Voltei já oficialmente. A Adosinda, empregada da família desde que tinha 12 anos e falecida este Setembro, engraçou comigo e tratava-me como uma princesa. Quando os meus irmãos e sobrinhos cá vieram numa passagem de ano animada, o tratamento foi o mesmo. E desde então já cá estivemos em vários Verões, na altura do Boom Festival, que é a uns quilómetros daqui, no carnaval onde chocámos as velhinhas com as nossas danças mais entusiasmadas, no início do Outono quando uma lareira é remédio para todos os males, nos piqueniques de família onde pude contar com o companheirismo das minhas 3 cunhadas. Conheci primos de Monsanto, tantos que é impossível lembrar-me do nome de todos. Mas lembro-me deles, a discutir alegremente com o meu pai no meu casamento, porque é que o Minho era o melhor sitio de Portugal. 
Monsanto é dos velhos que por aqui vivem, é dos boomers que de 2 em 2 anos cá vêm parar, dos turistas que alegremente suam a trepar pedra e dos primos, que têm cá casa e cá vêm carregar baterias. Monsanto não é, mas deveria ser património da humanidade e acima de tudo,  e vamos lá falar a sério,  nada mais interessa. É um dos meus sítios no mundo. Se já me leram, já ouviram falar de Altura, o sítio no algarve onde passo férias desde os 2 anos. Já me leram dizer: Altura é mais alto. Pelo cheiro a flor de laranjeira, pela areia, pelo mar quente. Monsanto é literalmente mais alto, rivaliza com as serras próximas, e subir ao castelo, digo-vos. Dá cabo de mim! 
Às vezes digo ao meu marido: vimos para aqui, para esta casa construída em cima de duas enormes rochas, e aqui viveremos. Tu tiras sisos e eu escrevo livros. Porque Monsanto tem isso. É inspirador. Não há praia, piscina ou espreguiçadeiras, quem vem,  vem simplesmente estar.  Ao ritmo que se trepa o granito, a inspiração entra quando o dióxido de carbono sai. E aqui vim festejar os meus 32 anos, porque gosto da paridade, porque não quero mais nenhum 31, porque quero sentir-me inspirada, renovada e reforçada. Para o que der e vier. Nasce-se e morre-se em Monsanto, mas acima de tudo vive-se. Vive-se com mais força.
Que Monsanto nunca saia de mim ainda que eu saia de Monsanto. De carro chego mais alto, mas com o meu chapéu e a minha samarra sinto-me a planar. E isto não vem com comunhão de bens ou separação dos mesmos. Isto aloja-se no coração,  tal como a Adosinnda, e não há quem tire.

Dezembro de 2015

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Anjo Mau


Quando eu era miúda tinha a mania que era poeta. Escrevia muito em prosa, mas era em verso que me expressava melhor desde que tinha uns 7 anos ou seja basicamente desde que conseguia dominar minimamente a língua Portuguesa. Muitas vezes as minhas composições nos testes de Português eram em poema, porque a minha mente organizava-se bem nesses termos e os professores não se importavam. (Uma queda gigante para o dramatismo e a fatalidade, claro vem dessa altura). Às vezes estava a andar de bicicleta e um poema aparecia na minha cabeça, ia a repeti-lo mentalmente até chegar a casa e podê-lo registar. Em casa também puxavam por mim e pediam-me poemas, às vezes à hora de jantar, tipo desafio, "ora tens até à sobremesa para fazer poema sobre tema X em soneto, nada de papéis". E eu fazia. Hoje fico feliz que me tenham feito esse tipo de desafios e dado essa atenção na fase difícil que é  a pré e a adolescência. Ainda hoje, bem menos, escrevo poesia.
Hoje a rever tralhas e mais tralhas das mudanças encontrei uns diários que são absolutamente deliciosos. Começam em 1998 (tenho mais antigos num esconderijo secreto na casa do meu pai) e tenho inclusive um diário de sonhos que me leva a pensar o que eu já desconfiava: sou mais esperta a dormir do que acordada. Mas dentro da poesia há um poema nos meus 16 anos que gostava de partilhar com vocês. (Encontrei também o que veio anos mais tarde dar nome a este blog: Residência Fixa nas Nuvens). É infantil quanto baste, em rima como eu gostava, e consigo aplicá-lo no dia de hoje a algumas pessoas na minha vida. Há coisas que parecem que não mudam mesmo. Aqui vai:

Anjo Mau

Desde criança que sonhava
Com criaturas em perfeição 
Sempre soube que as amava
Mesmo antes de as ver longe do chão. 

Agora uma partiu-me o coração 
Nela deixei de acreditar,
Sei que não merece o perdão 
Que o meu ser insiste em dar.

A essa criatura entreguei:
Corpo, peito e alma.
Mas nela nem sequer abalei,
Um pouco da sua calma.

Desculpa, tantas vezes te chamei
Pelo nome que não é o teu.
Perdoa-me se me enganei,
Não passou de um erro meu.

Anjo Mau te chamei
Vezes cuja conta não tem fim.
Esquece o anjo, agora bem sei,
És apenas mau, e não é só para mim.

10 de Outubro de 2001
Young (16) Raquel 

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

The Danish Girl


Ontem vi este filme que há muito estava na lista de espera, e apesar de concordar com algumas críticas que apontam falhas no argumento (tudo acontece demasiado rápido, ao contrário do livro em que o filme se inspira que descreve o processo em três décadas), foi um filme que me emocionou e deixou o coração bem apertado. Não se sabe se Lili é a primeira mulher transexual da história (quando o termo transexualidade não existia sequer), e apesar de Eddie Redmayne atingir como sempre um nível de sensibilidade muito elevado, é no papel e na relação com a mulher Gerda, Alicia Vikander, que o filme mais me tocou. Casados por 30 anos, a história deste casal de pintores mostra acima de tudo o que significa amor e lealdade num casamento, nem que isso implique lidarmos com a nossa própria decepção e ego, quando a pessoa ao nosso lado se recusa a ser o homem com quem casámos para ser a mulher que sempre soube ter dentro dele. É nesta relação de melhores amigos, de "até que a morte nos separe", que eu encontrei um nível maior de profundidade no filme e consequente emoção. De qualquer forma, e ainda que a narrativa em relação aos factos relacionados com os biográficos, possam não ser os mais exactos, este é um filme quase obrigatório numa altura em que a sexualidade é tema cimeiro das nossas agendas. Um 16/20.

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

David Lynch says YOOO!

Eu pensei que nunca fosse falar de moda neste blog (minto, creio que há aí algures um post sobre um sonho com Balenciagas) mas este era imperativo. O meu filme favorito está numa t-shirt da Zara. Amen Ortega! Esta correu-te/me mesmo bem! Não, não tenho uma única t-shirt com uma banda de rock, mas sim, a geek em mim vai já comprar a edição cinematográfica. Por mim podem fazer toda uma edição Lynchiana, do Homem Elefante ao Blue Velvet, uma para cada dia da semana qual camisola da Alberta Ferretti! 


Post Scriptum - Eu sabia que havia qualquer coisa sobre Balenciagas neste blog, post pesadinho por sinal. Aqui, para quem quiser ler.

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Os melhores contos do oriente VII


O sol começava a despontar e uma pomba entrou inadvertidamente num templo. Todas as paredes do templo estavam cobertas de espelhos e no centro do santuário, estava uma oferenda: uma bela rosa que se refletia nos espelhos criando milhares de imagens de si própria. A pomba, tomando os reflexos da rosa como a rosa verdadeira começou a lançar-se contra um e outro espelho, chocando violentamente contra estes até que o seu pequeno corpo sucumbiu. Morta, a pomba tombou sobre a rosa. 

Moral da história: Em qualquer ser humano encontra-se o real e o adquirido: o essencial e o aparente. A busca do bem-estar exterior deve ser associada e complementada com a busca do bem-estar interior. Se uma pessoa puser toda sua energia ao serviço da aparência, da imagem e da personalidade, consumirá a sua vida cativa dos refelexos, e de costas viradas para a sua natureza real, ou essência. É preciso aprender a distinguir entre o acessório e o substancial mediante o discernimento correcto, e ir recuperando esse "eu verdadeiro", diferente do "eu social". A rosa do conhecimento desponta dentro de nós mesmos.

Hoje pela primeira vez decidi transcrever em absoluto estas pequenas conclusões que o livro nos dá após o conto. Como sabem selecciono uma página aleatoriamente, mas hoje decidi ir à página 18, pois hoje dia 18, foi o dia em que me auto-propus fazer um detox de redes sociais durante algum tempo (o texto sobre isso está aqui no TWB). A página 18 trazia o primeiro conto deste livro e nem quis acreditar quando vi o conteúdo. É exactamente isto que pretendo com este detox: chegar ao meu eu verdadeiro, diferente do meu eu social. Viver uma vida mais real e essencial e menos de aparência e ego. Os espelhos, quase os compararia à caverna de Platão e às sombras. As redes sociais de alguma forma, fazem-nos viver num mundo de refelexos, muitas vezes pouco fieis ao que se passa cá fora. É no mundo inteligível de Platão que eu quero estar, não no sensível, não no das sombras, reflexos e aparências. Espero conseguir obtê-lo um bocadinho melhor depois de estes dias de entrega à rosa do conhecimento, apenas tenho de descobrir como fazê-lo o melhor possível...



Leiam todos os contos aqui!

terça-feira, 17 de outubro de 2017

Os melhores contos do Oriente VI


Um samurai foi visitar um sábio para lhe pôr uma dúvida que o atormentava: - Senhor, preciso saber se o céu e o inferno existem. 
- Quem pergunta isso? - perguntou o sábio.
- Um guerreiro samurai.
- Tu um samurai, com essa cara de parvo? - exclamou o sábio, continuando: - De certeza que para além de estúpido, és cobarde!
A ira apoderou-se do samurai que instintivamente sacou da sua espada apontando-a ao sábio.
- Agora abrem-se as portas do Inferno! - gritou o sábio.
O guerreiro envergonhado guardou o sabre, ao que o sábio reagiu afirmando:
- Agora abrem-se as portas do paraíso!
O samurai compreendeu então perfeitamente, fez uma reverência e partiu.

Moral da história: A milenar instrução espiritual diz: "O ódio jamais é vencido pelo ódio. O ódio só se extingue com o amor." A violência é sempre violência e gera violência. Temos de transformar as nossas inclinações para a hostilidade em propensões para o afecto e para isso é necessário recorrer à autovigilância, ao auto-domínio, à evolução da compaixão. 
Hoje fala-se de assédio e abuso sexual. Quando somos sujeitos a uma situação de violência, fisica ou psicológica, temos o instinto de agir com mais violência. Ataca quem se sente atacado. No entanto se pelo oposto tivermos compaixão, se o ódio não fizer parte da nossa vida, tudo será mais fácil. O oposto do amor é o medo. Amor cria amor, é a ele que nos devemos ancorar. Perdoar nem sempre é fácil, mas se dentro do nosso coração acalmarmos a chama da ira, teremos sem dúvida mais facilmente a tão desejada paz de espírito que todos queremos. 


segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Os melhores contos do Oriente V


Com algumas poupanças, um homem do campo conseguiu adquirir um burro jovem. A pessoa que lhe lho vendeu preveniu-o da quantidade de alimento que o burro precisava, mas o homem considerou-a excessiva e começou gradualmente a retirar comida ao jumento. Uma certa manhã, o homem encontrou o asno morto e lamentou-se: - Que desgraça a minha. Se me tivesse dado mais algum tempo antes de morrer, eu teria conseguido que se habituasse a não comer absolutamente nada.

Moral da história: que avarentos nos tornamos com o esforço que temos de fazer na caminhada para a auto-realização. O esforço é energia e esforço atrai esforço. Não nos devemos acomodar e baixar os braços, e quando acontece nos lamentar das fatalidades sem pensarmos no que poderíamos fazer de diferente. Temos de aprender a incrementar a nossa energia e a não desperdiçá-la com tagarelices mentais, conflitos inúteis e fricções desnecessárias. Hoje todo o país aponta o dedo e lamenta a tragédia por que passamos. Lamentar e apontar o dedo não chega. Há que agir. Não sejamos avarentos com os nossos esforços para tornarmos este mundo melhor. 


 Magritte

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Os melhores contos do Oriente IV


Um homem passou junto de um farol e viu uma mulher com um ar desesperado às voltas à procura de algo. - O que procuras cara mulher? - perguntou.
- Procuro uma agulha que perdi em minha casa, mas como lá não há luz, vim procurá-la junto do farol. - respondeu.

Moral da história: Por muitas dificuldade que a mulher pudesse enfrentar ao procurar a agulha, ela poderia acabar por encontrá-la, algo impossível de acontecer fora da casa. Por vezes, por muita desarrumação e confusão que reinem, é dentro de nós que temos de indagar, percorrendo o caminho até que um dia possámos ver a luz. 
Eu sou o tipo de pessoa que escolhe os caminhos mais fáceis com frequência. Às vezes evito certas questões e mesmo sabendo que não vou lá encontrar a solução, ou a agulha, escapo para sítios mais iluminados, como o farol. Esta semana mostrou-me que há coisas que simplesmente temos de enfrentar. Adiar eternamente os assuntos não os vai tornar mais fáceis, pelo contrário. E no fundo a solução está sempre dentro de nós. Uma das coisas que percebi, é que não preciso de mais nada, do que as ferramentos que já tenho, para fazer o meu caminho. Apenas preciso descobrir como as usar.

13 de Outubro de 2017
Todos os contos AQUI.

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Os melhores contos do Oriente III


O terceiro conto desta série (recordo que abro à sorte a página do livro acima e depois escrevo aqui a minha interpretação da história) fala-nos de um jovem erudito e petulante que queria atravessar um rio, apanhando para isso uma barca. Silencioso e submisso, o barqueiro começou a navegar energicamente quando o jovem ao ver passar umas aves lhe perguntou: "Barqueiro, estudaste a vida das aves", ao que o barqueiro respondeu que "não, senhor" e o rapaz disse-lhe "Então perdeste um quarto da tua vida". 
Ao passar por umas plantas exóticas, o rapaz perguntou ao barqueiro se ele tinha estudado botânica, ao que ele respondeu não, e o rapaz retorquiu "então devo dizer que perdeste metade da tua vida". O barqueiro remava e mais uma vez o rapaz investiu: "E as águas, estudaste a natureza das águas?" e perante mais uma resposta negativa, disse-lhe "francamente, perdeste três quartas parte da tua vida". 
Subitamente a barca começa a meter água e a afundar. 
O barqueiro perguntou então ao jovem: - Meu Senhor, sabe nadar?
- Não. - respondeu. 
- Então temo Senhor, - disse-lhe o barqueiro -  que tenha perdido toda a sua vida!

Moral da história, a sabedoria não é apenas aquela que vem nos livros, que se aprende nas escolas. Muita da sabedoria que temos de usar no nosso quotidiano vem da nossa experiência de vida e da nossa intuição. A um intlectual, de nada lhe serve a inteligência se a possuir apenas a ela. Hoje foi um dia em tive de usar do meu instinto (my guts) para resolver uma situação para a qual não fui instruída, apesar de pessoas com conhecimento na matéria insistissem para que eu o fizesse "by the book". Segui o meu coração, o meu instinto, a minha visão de diplomacia, e tudo se resolveu pelo melhor. Conhecimento não ocupa lugar, mas lembrem-se que há muito para além daquilo vem nos livros. O sexto sentido, é um deles, usem-no.

12 de Outubro de 2017

Se querem ler os outros contos carreguem aqui!

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Lágrimas de cebola



Estava a adiantar um assado para o jantar e lembrei-me de uma frase que li no livro "Água para chocolate" da Laura Esquível. Li-o muito menina e essa frase marcou-me para sempre, repito-a muitas veze em situações diferentes: O problema não é começar a chorar quando estamos a picar cebola. O problema é que às vezes não somos capazes de parar.

Os melhores contos do Oriente II


O conto de hoje dá-nos conta de um primeiro ministro fiel ao seu rei que em tudo tinha uma visão positiva e dizia sempre face a qualquer situação "é por bem". Um dia estava por perto quando o rei por acidente cortou um dos dedos da mão e exclamou "é por bem". O rei enfurecido mandou-o prender ao que ele respondeu "é por bem" novamente. Pouco tempo depois o reino foi conquistado por um reino vizinho e o monarca invasor ordenou que sacrificassem o rei vencido em honra dos deuses. Iam imolá-lo quando descobriram que lhe faltava um dedo logo desistiram do ritual visto que não se pode oferecer aos deuses um corpo imperfeito. Também não podiam sacrificar o primeiro ministro porque não o encontravam. 
Forças leais ao monarca reconquistaram o reino e o monarca chamou o ministro encarcerado e abraçou-o, desculpando-se. Quando pediu que voltasse a ocupar o seu lugar o ministro disse-lhe que a vida era tão incerta e instável que tinha decidido dedicar-se à prática da meditação em exclusivo. "Será por bem". O rei tinha aprendido uma lição.

Moral da história: Eu hoje tinha uma viagem marcada para daqui a algumas horas, por motivos que me são alheios não a poderei realizar. À medida que se aproximam as horas e que se desenvolvem os acontecimentos, vejo que se calhar será até melhor para mim não realizar esta viagem, ainda que signifique algumas perdas. Nunca devemos julgar os acontecimentos no imediato como negativos pois não estamos sempre capacitados da lucidez para prever se os desenvolvimentos serão uma benção ou não nas nossas vidas. Da mesma forma como não devemos julgar as pessoas que nos querendo bem, não se expressam sempre da forma que gostaríamos. O que não vem por benção, vem por lição. 


11 de Outubro de 2017





Os melhores contos do Oriente I


De manhã quando acordo pego neste livro que está ao lado da minha cabeceira e escolho à sorte um conto. Engraçado como são sempre apropriados para que se vai passar no meu dia. Hoje vou para a casa antiga para a última fase de mudanças, que implica deixar muita coisa e deitar fora outras. O conto que me saiu conta a história de um pai perto da morte que quer ensinar aos seus filhos que qualquer apego é mau. Que acorrenta, perturba a mente, envenena o carácter e prejudica as relações humanas. Um filho compreende mas outro nem por isso e rebate que os apegos dependem dos objectos a que nos apegamos. O pai então pega no mais fino fio de seda e começa a enrolar à volta do pescoço do filho até que ele lhe pede que pare pois assim vai matá-lo. Ao que o pai responde: até um fio de seda pode tirar-te a vida, não existem pequenos apegos.
Moral da história: ninguém pode deitar um fio de mel no paladar e não sentir o doce. O que muda é a atitude perante a gota. Podemos nos afeiçoar a ela ou podemos saborear intensamente sem apego nem obsessão.
Um bom desapego a todos que estão nesta difícil tarefa. Lembrem-se do fio de seda e do fio de mel!


10 de Outubro de 2017


segunda-feira, 9 de outubro de 2017

2001 - 2017 RIP IMDB Message Board



Depois de 16 anos de sucesso, a secção do IMDB que permitia aos utilizadores apaixonados discutirem cinema, vai ser encerrada por estar visivelmente transformada numa batalha ideológica e de interesses comerciais. Quem são os Trolls, qual o papel destes nesta decisão e que repercussões para a liberdade de expressão terá uma decisão como esta. Será que existe tal coisa como excesso de liberdade? Todas estas questões se levantaram quando o Internet Movie Database anunciou em comunicado passado dia 3, que a partir do dia 19 de Fevereiro os utilizadores não poderão usar mais o “Quadro de Mensagens”, Message Board no seu original. Esta secção popular do IMDB onde há 16 anos os utilizadores discutiam apaixonadamente diferentes temas relativos a cada filme, irá simplesmente desaparecer. Em comunicado, o IMDB alega que esta deixou de ser uma experiência útil e positiva para os utilizadores.

O IMDB nasceu 1989 em Bristol pelas mãos de um cinéfilo britânico, Col Needham. O que começou por ser uma base de dados pessoal, tornou-se na maior base de dados do mundo do cinema e da televisão, à medida que mais pessoas se juntavam à equipa e que os dados alojados na Universidade de Cardiff se tornaram numa empresa alojada num servidor de internet, com accionistas e ganhos através da publicidade e parcerias. O sucesso foi tanto, que em 1998 a Amazon comprou a maioria das acções por 55 milhões de dólares, tornando-a assim numa empresa privada. O IMDB continuou a crescer e tem hoje 77 milhões de utilizadores registados para além dos 250 milhões de visitantes mensais. Foi assim com grande espanto que os utilizadores receberam a notícia do fecho de uma das secções mais visitadas e sem dúvida, aquela onde uma maior forma de interacção era permitida, principalmente ao publicar a contribuição de qualquer utilizador registado que se quisesse manifestar. Ou talvez não.

Passeando rapidamente pelo message board que ainda está visível, as opiniões dividem-se entre aqueles que lamentam que a IMDB tenha chegado a esta decisão, ameaçando inclusivamente abandonar o site, uma vez que lhes consideram ter sido cortada a liberdade de expressão, e entre outros que aplaudem esta decisão, uma vez que à semelhança do que é referido no comunicado do IMDB, já há muito não retiravam uma experiência positiva deste departamento alargado ao público. Os chamados trolls são acusados de serem os principais responsáveis por isto acontecer. Certo é, que se visitando o quadro de mensagens de um qualquer filme, tomemos por exemplo o recém-estreado “Hidden Figures”, a maioria das mensagens contém ódio e linguagem imprópria, limitando as análises ao filme que trata o sucesso das primeiras mulheres negras na Nasa, a mensagens racistas, neo-nazis e políticas. Estes trolls, chamados assim por espalharem ódio na internet através de perfis falsos, transformaram aquilo que era até então um espaço de debate entre cinéfilos, numa batalha campal ideológica, onde a linguagem sobe de tom, os insultos são uma constante e as ameaças passam os limites do aceitável. Fontes não oficiais asseguram que esta situação piorou razoavelmente desde que o Presidente Trump ganhou as eleições e as questões políticas tomaram a ordem do dia em todos os sectores da cultura americana.

Esta não é, porém, a única consequência do vandalismo cibernético. O IMDB possui um sistema de votações, que é utilizado por sites de cinema de todo mundo como barómetro acerca da qualidade dos filmes ou séries inscritas. A partir do momento que este valor, resultado da média entre os votos dos utilizadores, começou por ser visivelmente influenciado por grupos de pressão contra ou a favor do filme, esta questão levanta também ondas de cariz económico e comercial. A nível de exemplo, temos o filme “I am your negro”, documentário nomeado aos Óscares, que no dia da estreia recebeu 409 votos de classificação de uma estrela apenas, contra 318 votos de classificação de 10 estrelas, e um número quase inexistente de votos entre as pontuações que se posicionam entre a votação mínima e a máxima. Mais que uma votação honesta de cinéfilos, esta tornou-se uma guerra racial, com repercussões de resultados de bilheteira influenciados por estes resultados. O mesmo foi se registando ao longo de 2016, onde filmes de culto recebiam milhares de votações de dez estrelas mesmo antes da estreia, enquanto outros eram siderados pelas votações mínimas possíveis em massa, principalmente quando tratavam uma questão sensível, que era considerada partidária, homofóbica, sexista ou mesmo de caracter nacionalista pelos ditos trolls cibernéticos. Tendo em conta os milhões que as produtoras ganham e perdem com esta média aritmética que influencia resultados de bilheteira, a Amazon começou cada vez mais a ver-se numa posição delicada, onde o conflito de interesses comerciais parece falar mais alto.

Em boa verdade, o que está a acontecer com o IMDB, esta regressão na liberdade de expressão do utilizador comum, parece alargar-se a outras plataformas online onde a liberdade parece mais uma escravatura dos interesses de agenda de grupos ideológicos. Perante um ecrã de um computador e tendo a seu favor o anonimato, o cidadão comum parece dar azo ao pior que há em si, fazendo desta luta, tudo menos inocente. Será este um sinal dos tempos que nos diz que afinal existe tal coisa como “liberdade em excesso”? Apenas o tempo o dirá, mas uma vitima já está feita, e os cinéfilos verdadeiros, dirão adeus com saudade ao que foi em tempos, o sítio mais desafiante da internet para se discutir verdadeiramente cinema.

(Este texto foi publicado pela primeira vez dia 13 de fevereiro no portal www.ricardojorgepinto.com)

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Os Amiguinhos


Há cerca de 10 anos, mais coisa menos coisa, comprei estas estatuetas a quem dei, desde o dia um, o nome de "Amiguinhos". Curiosamente estavam na outra casa logo na entrada, tal como aqui, mas só agora começaram a ser notados. Costumava dizer que eles estavam ali a cumprimentar quem chegava, mas agora que sei melhor, sei que estão a dizer "Namaste": O ser divino que há em nós cumprimenta o divino que há em ti. Imaginem-se também a ser cumprimentados por eles quando entram em qualquer um dos meus blogs, que são também minhas casas. Uma boa semana a todos, namaste. 🙏

terça-feira, 26 de setembro de 2017

Espanholices

"
- Pues que tengo que decirte que entre nosotros no pasa nada más, no puedo continuar.
- Bueno ló sabes tu, la verdad es que nunca te he querido.
- Pero como no? Me decias siempre que me querías mucho.
- Te quería mucho. Nunca que te quería. Querer mucho no és tan grande como querer.
"

sábado, 23 de setembro de 2017

terça-feira, 5 de setembro de 2017

Te perdi, deixa lá

De tanto de tentar encontrar te perdi.
Não sei onde, não posso ir procurar por ti.
Estavas sempre comigo, nos meus pensamentos, nas minhas caminhadas.
Dei-te a conhecer o mundo, não digas que és pouco viajado.
E agora até te dei uma nova morada.
Quiçá, Sagrada.
Me lembrei que não lembrava há muito de ti e percebi. Deixaste de cá estar.
Sem querer, sem saber, sem contar.
Te perdi.
Estavas em cada canção, em cada cena de filme, em cada poema, em cada sonho a dormir e acordado.
Pedi ajuda a Pai de Santo, a Shiva, a Santa Rita, a Buda, a Iemanjá.
Não adiantava, não desaparecias, estavas sempre lá.
E agora que deixei de te procurar, te perdi.
Não sei onde, não posso ir procurar por ti.
Deixa lá.