quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Anjo Mau


Quando eu era miúda tinha a mania que era poeta. Escrevia muito em prosa, mas era em verso que me expressava melhor desde que tinha uns 7 anos ou seja basicamente desde que conseguia dominar minimamente a língua Portuguesa. Muitas vezes as minhas composições nos testes de Português eram em poema, porque a minha mente organizava-se bem nesses termos e os professores não se importavam. (Uma queda gigante para o dramatismo e a fatalidade, claro vem dessa altura). Às vezes estava a andar de bicicleta e um poema aparecia na minha cabeça, ia a repeti-lo mentalmente até chegar a casa e podê-lo registar. Em casa também puxavam por mim e pediam-me poemas, às vezes à hora de jantar, tipo desafio, "ora tens até à sobremesa para fazer poema sobre tema X em soneto, nada de papéis". E eu fazia. Hoje fico feliz que me tenham feito esse tipo de desafios e dado essa atenção na fase difícil que é  a pré e a adolescência. Ainda hoje, bem menos, escrevo poesia.
Hoje a rever tralhas e mais tralhas das mudanças encontrei uns diários que são absolutamente deliciosos. Começam em 1998 (tenho mais antigos num esconderijo secreto na casa do meu pai) e tenho inclusive um diário de sonhos que me leva a pensar o que eu já desconfiava: sou mais esperta a dormir do que acordada. Mas dentro da poesia há um poema nos meus 16 anos que gostava de partilhar com vocês. (Encontrei também o que veio anos mais tarde dar nome a este blog: Residência Fixa nas Nuvens). É infantil quanto baste, em rima como eu gostava, e consigo aplicá-lo no dia de hoje a algumas pessoas na minha vida. Há coisas que parecem que não mudam mesmo. Aqui vai:

Anjo Mau

Desde criança que sonhava
Com criaturas em perfeição 
Sempre soube que as amava
Mesmo antes de as ver longe do chão. 

Agora uma partiu-me o coração 
Nela deixei de acreditar,
Sei que não merece o perdão 
Que o meu ser insiste em dar.

A essa criatura entreguei:
Corpo, peito e alma.
Mas nela nem sequer abalei,
Um pouco da sua calma.

Desculpa, tantas vezes te chamei
Pelo nome que não é o teu.
Perdoa-me se me enganei,
Não passou de um erro meu.

Anjo Mau te chamei
Vezes cuja conta não tem fim.
Esquece o anjo, agora bem sei,
És apenas mau, e não é só para mim.

10 de Outubro de 2001
Young (16) Raquel 

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