segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

Babel de Inarritu



Fui ver o Babel e posso sem dúvida afirmar que é filme para Oscar, muito provavelmente o vencedor deste ano. Mas há muito mais para dizer sobre Babel. Este filme de Alejandro Gonzaléz Inarritu tem uma excelente montagem (não é à toa que está nomeado nesta categoria) e tem algumas interpretações exemplares (destaco a de Adriana Barraza e Rinko Kikuchi, ambas nomeadas ao oscar). Este é o típico filme “soco no estômago” que nos arrepia não necessariamente pelas imagens, não necessariamente pelos diálogos e sim pela envolvência das histórias, por aquilo que elas implicam… A critica social e antropológica como principal ingrediente, não deixa sequer de fora o retrato ao México como eterna cidade fronteiriça dos Estados Unidos e tudo o que isso implica. Inarritu e Arriaga, realizador e argumentista, ambos nados e criados no México dão aqui uma grande lição ao patriotismo cego de alguns realizadores norte-americanos que resulta em produtos hipócritas de pura propaganda nacionalista. De mencionar também a chamada de atenção à frieza norte-americana retratada não só nos turistas que preferem ignorar as férias de sonho manchadas pelo sangue alheio, como nos pais que deixam os filhos com uma empregada doméstica, por não terem nenhum laço familiar consistente.
Nota de destaque ainda para as histórias que se ligam, tão longe e tão perto. A adolescente que vive um silêncio que grita mais do que mil palavras, que parece ouvir constantemente uma música que deprime, apenas na sua cabeça. O pai, tão focado no seu próprio drama pessoal que não se apercebe que normalmente não sofremos sozinhos. O casal que parece ter atravessado o Atlântico para se verem pela primeira vez, a frustração de não se viver com quem se vive. A empregada mexicana, que apesar de legal continua a ser tratada como uma intrusa e que torna as crianças dos outros na sua própria família, a família que tem de ter para poder sustentar a sua própria. Por fim os laços familiares entre os habitantes do alto atlas, a desmistificar a imagem de que lá por se viver em grutas, não quer dizer que se viva como animais. A emoção do pai, o companheirismo do irmão… São, ao contrário do que acontece no cimo da torre da babel, uma língua universal.
Mas Babel apesar de ter todas as características que um Oscar pede, tem também alguns senãos que não o deixam, na minha perspectiva, ser o filme do ano:

1- A montagem. Já a indiquei aqui como uma mais valia, no entanto a montagem de Babel perde apenas num ponto: É idêntica à de
e à de Amores Perros e 21 grams , os outros dois filmes que compõem a filmografia de Inarritu. O mesmo se passa com a fotografia e a montagem sonora. Atenção! Isto não quer dizer que estas sejam medíocres, simplesmente deixa-nos uma sensação de deja pouco agradável para quem buscava uma surpresa/ revelação de Inarritu neste filme.

2- É uma fórmula gasta e repetida, a do argumento de Babel. É praticamente idêntica à de
Crash, o que talvez o impeça de ganhar o Oscar de melhor filme.

3- A edição. O filme tem cenas excessivamente lentas, algumas delas sem sentido estético e formal. Com menos 20 minutos de imagens, o resultado seria um filme melhor e mais passível de cair no goto dos espectadores.

4- Marrocos. Para quem como eu conhece o país e as zonas onde o filme decorre, o filme tem falhas de verosimilhança graves (o helicóptero nunca iria para Casablanca e sim para
Marrakesh que é muito mais perto do atlas e tem hospitais a nível internacional. Mas lá está… Babel é um filme para Hollywood ver e Casablanca é definitivamente mais hollywoodesco…) Para além disso Babel projecta uma má imagem deste Oriente aqui ao lado e acredito sinceramente que se o governo conhecesse o argumento, não daria autorização para as filmagens.

Contas feitas: Dou-lhe um 17 de 0 a 20, pela grandiosidade das imagens e pela audácia de
Inarritu de mostrar realidades a que estamos poucos habituados com um filme violento e mordaz.

4 comentários:

Anónimo disse...

Não vi... mas agora quando vir vou ter em atenção tudo o que referiste aqui... ;)

bj

Anónimo disse...

Filme fraco, fraco, fraco.
Um tédio esperar por o final, que ainda para mais é de todo previsivel.
Ligações obscenas, ou exageradas em termos de cultura, parece um filme feito em cima dos joelhos de quem não sabe para mais. Básico e lento.
Por mim nem era nomeado

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

Filme de Qualidade.
Mas na minha humilde opinião de cinéfolo experiente, isto é, pelo menos as pipocas e os assentos do cinema são velhas companhias, atrevo-me a dizer que o filme acaba por ser um "seca" e com pouco interesse.
Tirando uns sorrisos provocados por um pouco de pimenta e algum sal que nos provoca um certa japonesa em algumas partes do filme; só não deixei a sala de cinema porque parecia mal num filme tão nomeado para os óscares...
Enfim, mas para criticar nada como ver.

Adônis...