sábado, 22 de maio de 2010

A cidade do meu sonho


Há uma cidade onde vou recorrentemente nos meus sonhos. São sonhos agitados, ansiosos. Parece-me que essa cidade vive um clima de tensão. Sei que tem um rio e nas duas margens se debatem povos diferentes através da venda do seu artesanato. Mas num passeio por esse rio já assisti a agressões entre os oponentes. Parecem-me todos arábes mas há algo de diferente naqueles que estão na margem do rio que não alcanço. Como se pertencessem a uma década diferente, talvez um século. De resto toda a cidade está parada no tempo. Os restaurantes são uniformes e servem todos os mesmo pratos enfadonhos e mal preparados. As lojas vendem posters dos artistas dos anos 60 e de grandes êxitos do cinema dos anos 70. Apesar de muçulmanos (creio) só vejo referências ao passado do mundo ocidental. A cidade tem mar e um porto e nesse porto há um restaurante/ barco que é dirigido por portugueses. Comi lá um pastel de nata e bebi um chá de camomila, mas não pude comer o prato do dia, filetes de pescada com arroz de tomate porque já tinha terminado. Lá contam-me que naquele mar, anos antes houve uma grande tragédia, com um barco a afundar-se levando centenas de pessoas com ele. Olho para o mar com apreensão temendo que me aconteça o mesmo quando o meu ferry chegar. Penso nos cadáveres que ainda estarão no fundo da água.
Esta noite sonhei pela primeira vez que estava numa das casas dessa cidade. Creio que não vivia lá, porque continuava a sentir-me emprestada, mas dormi nas camas de ferro velho e cozinhei na cozinha, onde o que mais abundava era o cheiro e presença de óleo queimado. Comi, tal como em todos os outros restaurantes, batatas fritas com um bocado de carne seca. Ao sair de casa percebi que estava num bairro pobre e algumas pessoas saudavam-me como se me conhecessem. Eu estava descalça e o caminho era em pedra, magoando-me os pés. Sei que a cidade tem uma espécie de montanha onde se encontra uma igreja e com confusão constato que me parece uma igreja cristã. Já subi essa montanha e recordo-me que fiquei cansada quando o fiz, encontrando pouco mais que os vendedores de artesanato velho e mal encavacado que também estão nas margens do rio. Não sei onde fica esta cidade, nem sei se quero lá voltar, mas gostava de entender porque a visito tão frequentemente a dormir.

PS- Todos os sonhos descritos aconteceram neste último mês e não há gota de ficção nesta descrição.

8 comentários:

CARLOS disse...

A DESORDEM DO INICIO TALVEZ A INCERTEZA DO QUE O FUTURO TE RESERVA.O MERCADO DE VENDA DE TUDO MAIS ALGUMA COISA TALVEZ FASHION VICTIM.O BAIRRO POBRE A REALIDADE A QUE ASSISTES PELA TELEVISÃO.QUANTO AO CAMINHO A DOR ,PEDRAS,A IGREJA QUANTO A ISTO NÃO CONSIGO DAR OPIMIÃO.

Raquel Felino disse...

A essa fase final julgo que tenho a explicação ideal. Mas só agora pensei nela. E é claro como água para quem conhece os últimos meses da minha vida pessoal.

Tiago Almeida disse...

Deixei um post no blog "Cinema Studies Diaries". Não sabia, ou não me lembrava que o tinhas!

Docas disse...

Olá Raquel. Estive a dar uma vista pelos teus textos a pedido do meu irmão (Manuel rodrigues-ito). Desde já os meus parabens;). Temos de marcar um cafézito para alucinar um bocadito de ideias. Keep in touch

Anónimo disse...

Bom post, ja sabes qual é a cidade?

Anónimo disse...

A particularidade dos sonhos fantasiosos se mesclarem com a realidade, faz-nos por fezes nao entender que o que de melhor se passa nos sonhos é paralelo aquilo que de melhor ja temos.

A cidade do teu sonho é onde estas hoje, literalmente... e dela, se notares fazem parte as pessoas para quem es fundamnetal e sao fundamentais para ti, umas podem mostrar-se mais evidentes outras tem de ser mais ocultas .

Unknown disse...

Admirei muito a tua capacidade de descrever um sonho. Nem sempre tal é fácil. Isso demonstra a tua criatividade progredir, até mesmo em sonhos.

Missariadne disse...

És uma pessoa sensível,com as emoções à flor da pele.Isto digo eu claro,baseada no que li.
Tinha uns livros de um psicólogo americano,que lamentavelmente,esqueci o nome,que são relatos de regressões ao passado.Lembrei-me disso com o teu relato..
É louco,mas parece a tua vida passada,não?