sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Mulholland Drive I

"I", porque é o meu filme favorito, porque foi o case-study da minha tese de fim de curso e porque há muito para dizer sobre ele. Para já apenas uma introdução sobre esta obra-prima.



Mulholland Drive: A estrada dos sonhos de David Lynch
“Ao pé de Mulholland Drive, quase todo o cinema parece, de repente, excessivamente cortês e doentiamente sensato. ”
João Mário Grilo in Visão
Mulholland Drive é um filme especial na filmografia de David Lynch porque é o apogeu da sua dedicação à temática dos sonhos. Estes assumem um papel de maior importância em quase todos os seus filmes, seja nos sonhos que as personagens têm, seja na descrição que fazem destes a outros, seja na ténue linha que distingue o que o espectador interpreta como momentos ocorridos em estados de vigilância ou em sono REM. A segunda curta-metragem de Lynch, The Alphabet, mostra uma mulher que durante quatro minutos se debate com um pesadelo em forma de abecedário. Anos mais tarde, Lynch confessou que se inspirou num pesadelo semelhante que a sua mulher teve e ao qual ele assistiu. Outros filmes viriam a ter inspiração em situação reais de sonhos tidos, mas Lynch insiste sempre que o sonho acordado é aquele que tem mais valor na narrativa. Talvez por isso tente, que através de filmes como Mulholland Drive, o espectador possa sonhar, devanear pelas imagens condutoras de pensamentos oníricos.
A ideia surgiu a David Lynch com a visão da placa que anuncia Mulholland Drive, a mítica estrada, em Los Angeles, que serpenteia pelas colinas de Santa Mónica, passa por Hollywood e desagua em Malibu e no Oceano Pacífico. Uma parte é residencial, a outra está abandonada aos fantasmas que nela se foram projectando. A ideia começou com a visão dessa placa a ser parcialmente iluminada pelos faróis dos carros que passam. De noite, é um sítio misterioso, porque aí estão à solta as ilusões perdidas de todas as aspirantes a estrelas que ao longo dos anos perderam a inocência nas colinas de Hollywood. David Lynch descreve Mulholland Drive como uma rua que parou no tempo. Tal como o filme. Ambos intemporais e imortais. Diz que a placa é “um tipo de artifício” que iluminado pela luz mágica de LA faz-nos sentir que tudo é possível.   Iluminado por este pensamento desejou "que as pessoas entrassem nesta viagem por Mulholland Drive, e sentissem qualquer coisa que não se explica". Assim fez um episódio piloto para uma série para a cadeia televisiva ABC. Mas o projecto abortou e só financiadores franceses conseguiram, dois anos depois, que o episódio, com novas cenas filmadas e uma nova montagem, acabasse por ser mais uma participação do realizador na competição de Cannes. 
Para Lynch as ideias não habitam dentro das pessoas e sim voam à sua volta como se de pequenos insectos se tratassem. Uma dessas ideias era o de desfecho de Mulholland Drive e em apenas meia hora num fim de tarde Lynch imaginou todo o filme: “Mistérios são a coisa mais importante para mim e em Mulholland Drive eu não queria saber demasiado sobre como a história iria acabar. Se eu soubesse tudo, começava a ficar aborrecido. E quando tu vives com uma solução por demasiado tempo… É simplesmente uma desgraça.”

2 comentários:

E disse...

Os sonhos, sempre os sonhos.

Pedro disse...

Aquilo é plagiado do Herman Hesse pá da última parte do lobo das estepes.