No outro dia à hora do almoço conheci um senhor do Kentucky,
ele estava a viajar desde Outubro, esteve na Índia a fazer voluntariado uns
meses e agora para terminar a viagem decidiu visitar os países mediterrânicos.
Visitou Itália, fez o caminho de Santiago e disse uma coisa muito bonita sobre
o Porto: "Parece que nunca nada me pode correr mal no Porto. Mesmo quando
corre mal, acaba por correr bem." Era um homem culto, afável, e perspicaz.
Chamava-se Gelatto, e ficamos à conversa imenso tempo. Às tantas perguntou-me
uma coisa e eu fiquei bem sem lhe saber responder. Disse-me: "Mas porquê
que os Portugueses estão sempre a falar sobre o grande que foram, a lamentar o
império que perderam?", "Nunca tinha pensado nisso - disse-lhe - acho
que tem a ver com o nosso fado".
E ele então deu-me esta analogia: "Sabes, eu vejo
Portugal como a casa da nossa avó que vamos visitar poucas vezes porque é muito
longe. A casa é pobre, tem as portadas partidas porque não há dinheiro para
arranjar. As paredes estão mal pintadas e a casa por dentro é igual. Mas depois
ela convida-nos para chá e uma fatia de bolo e nós aceitamos. E a avó serve-nos
o chá numa caneca que está um bocadinho partida e num prato estalado. Mas
sabes, é o chá e o bolo mais delicioso que já comemos na vida. Entendes?"
Perante isto fiquei calada, pensativa. A minha reacção
inicial era protestar, que não somos nada assim, mas o que é que ele estava a
dizer? Mas depois entendi bem o que ele me queria realmente transmitir. E
fiquei feliz. E orgulhosa. Sim, por vezes a nossa caneca pode ser meia mal
encavacada, mas não tenho dúvida nenhuma que o conteúdo é o mais saboroso e
feito com a melhor intenção deste mundo. E assim nos definiu o Gelatto: Meios
toscos por vezes mas com um coração maior que os metros quadrados que nos
limitam. Às vezes é mesmo preciso que uma pessoa nos veja de fora, para que nos
possamos perceber por dentro. Obrigada Gelatto, eu e Portugal agradecemos.
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